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Pequeno Expediente Carlos Lula

06 de novembro de 2024

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Transcrição

O SENHOR DEPUTADO CARLOS LULA (sem revisão do orador) – Exmo. Senhor Presidente, Senhores Deputados, Senhoras Deputadas. Senhor Presidente, nós iniciamos o dia com a proclamação já do resultado das eleições nos Estados Unidos da América, com a eleição do Donald Trump, já elogiada, já parabenizada, perdão, pelo presidente da República, como deve ser e pela maioria dos chefes de estado do mundo. E eu queria poder fazer uma reflexão, breve, mas necessária, deputado Davi, sobre o que essas eleições dos Estados Unidos da América podem indicar para o campo progressista no Brasil. E o primeiro ponto que eu queria destacar, deputado Antônio Pereira, é que me parece haver um equívoco absurdo, por parte do campo progressista, seja no Brasil ou ainda que se possa falar seja nos Estados Unidos, para entender os eleitores desse campo conservador, para entender os eleitores do Trump. Em 2016, o Trump teve 63 milhões de votos. Em 2020, 74 milhões de voto. Ele vai ter um pouco mais para as eleições de 2024. E a gente deve aqui se recordar sobre as palavras ditas, em 2016, pela Hilary, onde chamava os eleitores de estúpidos ou nessa eleição pelo Biden, a chamar os eleitores do Trump de lixos. Não faz nenhum sentido a gente tentar ganhar o voto e a simpatia dos eleitores os xingando, me parece haver uma cegueira que torna incapaz do campo progressista olhar para classe trabalhadora sem clichê e sem insulto, me parece haver, deputado Antônio Pereira, um problema evidente. A gente fala, parece falar muitas vezes pros eleitores, para os eleitores da Folha de São Paulo, mas a gente se esquece de quem imprime a Folha de São Paulo. E eu digo não é esquecimento, mas, sobretudo, incompreensão. A gente olha muita gente do campo progressista, deputada Vivianne, dizendo como é possível a membros da classe trabalhadora ser contra medidas de equidade; como é possível a pessoas da classe trabalhadora ser contra medidas, como o Pé de Meia ou como o Bolsa Família. O primeiro ponto que a gente tem de entender é que a classe trabalhadora é diferente da classe dos mais pobres. Os mais pobres, eles conseguem ser impactados por esse tipo de política social, mas a classe trabalhadora, a classe C, o grande grosso das pessoas do Brasil que recebem mais de dois salários mínimos por mês e há um tempo, eles não conseguem ser impactados por essas medidas de política social, porque não vão receber o Bolsa Família, não vão ter acesso ao Pé-de-Meia, vão ter dificuldade de acessar a Farmácia Popular. Mas, ao mesmo tempo, não veem ganhos sociais de outra monta. O que a gente tem a dizer para a classe trabalhadora, para a classe C do Brasil? Eles seriam deploráveis, lixo, fascistas? O que a gente tem a dizer para essas pessoas? Não faz sentido, deputado Arnaldo, Vossa Excelência, vencedor de inúmeras eleições nos últimos 30, 40 anos. A gente não ganha voto ofendendo as pessoas, a gente não ganha voto xingando as pessoas, a gente não ganha voto de salto alto, achando que sabe mais da realidade do que os problemas que as pessoas enfrentam. O ressentimento da classe trabalhadora com a política e com os políticos, eu digo que é o maior motor da eleição do Trump nos Estados Unidos, mas também é o maior eleitor e o maior motor da eleição da direita no país. Famílias com rendas acima de dois salários-mínimos, que não conseguem receber o Bolsa Família e não têm acesso a programas, por exemplo, como o Pé-de-Meia, o que eles ganham do Estado Brasileiro é uma alta carga tributária, serviços públicos de baixa qualidade, insegurança nas ruas. Não adianta aqui vir falar das razões pelas quais a pessoa foi levada a tomar um celular, ninguém fica feliz de ter o seu celular roubado, de ser assaltado no ponto de ônibus, de demorar duas horas para chegar no trabalho, duas horas para voltar em casa, praticamente não vê seus filhos. O que a gente tem que falar para o motorista de ônibus, para o pedreiro, para o caminhoneiro, para o técnico de enfermagem, para o trabalhador da saúde? Se ser de esquerda, ser do campo progressista é defender a classe trabalhadora, a gente tem que se perguntar: o que é que a gente tem a dizer para essas pessoas? Não existe essa história de salvar a democracia, de xingar todo mundo de fascista, a gente não faz política e não ganha política desse jeito. É preciso deixar de lado a nossa cegueira, e eu falo aqui para o campo progressista: a gente precisa de novo discurso, uma nova atitude e uma nova visão de mundo. As verdadeiras preocupações dos brasileiros…

O SENHOR PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DEPUTADO FLORÊNCIO NETO – Libera o áudio para o deputado Lula concluir, mais um minuto.

O SENHOR DEPUTADO CARLOS LULA – Agradeço, presidente. E eu repito, é preciso deixar de lado a nossa cegueira, um novo discurso, uma nova atitude e uma nova visão de mundo. As verdadeiras preocupações dos brasileiros precisam ser apresentadas e precisam ser enfrentadas. Se tem algo que as eleições nos Estados Unidos podem ensinar para o Brasil, é exatamente isto: a gente tem de deixar de achar que fala só com a universidade. A universidade é um pequeno ponto do mundo, a gente fala com os problemas reais das pessoas no ponto de ônibus. Muitas vezes, as pessoas, não as que dão aula na universidade, mas as pessoas que estão limpando a universidade, é com essas pessoas que a gente tem que se reconectar e poder falar e poder apresentar um novo sonho. Se tem algo que as eleições dos Estados Unidos podem ensinar, é fazer a gente deixar o salto, enxergar um novo mundo e deixar essa visão cega de lado. Eram essas palavras, Senhor Presidente.