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Expediente Final Ana do Gás

28 de maio de 2025

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Transcrição

A SENHORA DEPUTADA ANA DO GÁS (sem revisão da oradora) – Bom dia a todos e a todas, TV Assembleia, caros colegas Deputados, que ainda se encontram aqui na nossa Sessão, Senhor Presidente em exercício, Deputado Wellington do Curso. Eu subo, mais uma vez, essa tribuna na condição de mulher, não é nem de Parlamentar, aproveitando a oportunidade de agradecer a Deus e ao povo do Maranhão já por me conceder o meu terceiro mandato. Mas o meu sentimento que me traz aqui, hoje, nesse minuto, já passando do meio-dia, na minha condição de mulher, é de ver os meus colegas Deputado Leandro Bello, Deputado Júlio Mendonça insignificar o que está acontecendo com a Parlamentar e mulher Deputada Mical Damasceno. Já vim a essa tribuna para relatar o caso que nós presenciamos aqui, por vezes, de violência política com a nossa Presidente Iracema Vale, que é a primeira mulher, em quase duzentos anos, a presidir esta Casa Legislativa. E o que aconteceu com a Marina Silva nossa Ministra, que é uma mulher que tem um histórico político exemplar, é uma mulher de luta, é uma mulher que saiu mesmo de condições sociais lá da ponta e chegou aonde chegou e foi altamente atacada ontem no Senado Federal, onde nós, como mulheres, sentimos o que a Marina sentiu, sentimos o que a Deputada Mical sentiu e sentimos a todo momento. No Brasil, a cada seis horas, uma mulher é morta só pelo simples fato de ela ser mulher, em casos de feminicídio registrados. No mundo todo, cento e quarenta mulheres são mortas por dia. Aí me entristece de ver o meu colega Deputado Leandro Bello achar que é um simples caso. Reconheço a capacidade técnica, o carisma do nosso Vice-Governador Felipe Camarão e fiz até um apelo aqui, na minha fala, no aparte com a Deputada Mical, que ele pudesse vir a esta Casa, que ele será muito bem recebido para esclarecer. Porque, se há contestamento de uma perícia feita, que foi um perito, acredito eu, que é concursado do nosso Estado do Maranhão, não é nenhum cargo indicado, se não me falha a memória, se eles estão desqualificando esse atesto pericial de um profissional e que venha desqualificar isso também por meio da justiça, que venha falar aqui para a gente, de fato, se falou, se não falou, se o blogueiro teve permissão de divulgar as mensagens, ou não teve. Aqui a gente não quer levar em conta o blogueiro. A gente está trazendo a imagem de uma mulher e que, se nós não falarmos sobre isso e não determos isso, vai acontecer a todo momento, vai ficar como eles mesmo subiram aqui para dizer: “Ah! Quantas mulheres morreram no final de semana. Quem defendeu?” Morre mulher a todo momento. A nossa luta diária quando a gente sai daqui, do nosso espaço de trabalho, é para viver. E a gente pede a sensibilidade, o apoio dos homens para que esse nosso direito possa ser garantido em todos os espaços. Se nós, que estamos ocupando um espaço como esse, como a Marina Ministra, como a Presidente Iracema Vale, Presidente desta Casa, como a Deputada Mical, na condição de Deputada, independentemente de lado partidário, de bandeira partidária, se é loura, se é negra, se é indígena, independentemente de qualquer etnia, do que ela representa, do que ela acredita, é mulher. Nós estamos debatendo aqui e trazendo a memória a todo momento para não ser esquecida, porque não são 21 dias, não é só a Deputada Mical que sofre violência política. Hoje, em média, acredito eu, que mais de 100 mulheres já sofreram. Dessas 100, 10 têm coragem de denunciar, 90 ficam com medo. Com medo de quê? Do processo demorar, da justiça dos homens ser lenta, de a gente ser silenciada, questionada a todo momento. Um laudo pericial que atesta a veracidade dos fatos está sendo questionado, imagine uma voz de uma mulher que diz aqui que foi totalmente ofendida com palavras, com a sua moral, com tudo. Como é que não está, Presidente em exercício Deputado Wellington do Curso, o psicológico? Ainda bem que a nossa colega Deputada Mical é uma mulher de muita fé. Mas isso nos abala, é muito difícil a gente ter que acordar e vir encarar situações como essas e de ver, de trazer para pautas para divergir opiniões. Ah, porque a Deputada Mical indicou uma Secretaria no Governo, por isso, por aquilo. Não estamos tratando disso, nosso Governador Carlos Brandão, na sua atividade de Governador em exercício, tem direito de nomear quem ele quiser, assim como qualquer outro Governador teve, é a sua autonomia de poder. Nós estamos falando aqui de um crime, e eu peço mais uma vez, porque, como a Deputada Cláudia Coutinho falou ontem, a gente se choca, nossas opiniões se divergem, porque o perigo está onde a gente menos espera. Essa Sra., da qual o Deputado Leandro Bello fala, que nem uma mulher subiu à tribuna ontem, a nossa Procuradora da Mulher falou dos quatro feminicídios, não foi só uma mulher que morreu no final de semana. Hoje, graças a Deus e à Segurança Pública do nosso Estado, o assassino foi preso, e a nossa procuradora usou essa tribuna ontem para falar, mas nem se atentam que nós estamos gritando a dor de outras mulheres. Passa despercebido. Eles nem contam que nós estamos falando aqui de muitas mulheres e de nós mesmas, porque nós sofremos violência todos os dias, a todo momento. Então, eu faço aqui esse apelo. Se é para esclarecer, se não tem a temer, apareça, esclareça para as mulheres, para a sociedade, para a Deputada Mical, para o Maranhão. É de respostas assim que nós precisamos para que mulheres que estão sofrendo violência psicológica, política, física, patrimonial ou de qualquer forma agora, neste momento, possam ter coragem de denunciar, porque estão silenciadas. E, se elas nos olharem como vozes de muitas mulheres do Maranhão, eleitas pelo povo do Maranhão, sendo atacadas, querendo colocar uma venda em nossa boca com dificuldade de defendê-las imagine elas quantas mulheres não vão morrer aí caladas. Até por crime de homicídio sendo feminicídio. Muitas. Então é inadmissível titular a situação da Deputada Mical pela aquilo que ela defende se é de direita se é de esquerda, ontem, foi a Ministra Marina de esquerda há vinte um dia foi a Deputada Mical de direita todo dia aqui a nossa presidente sofre violência política. Então, a gente vai fazer um monitoramento de segundos de minutos porque a cada seis horas morre uma mulher vítima de feminicídio de violência a cada seis horas morre. Às 18h, a gente for buscar aí no G1 nos dados da ONU do IBGE, a gente vai ter aqui no Google. No Brasil, no mundo, por dia, são cento e quarenta mulheres. Então, nós não estamos falando aqui do que a gente representa é na condição de mulher. E eu me solidarizo mais uma vez a minha colega Deputada Mical, a Ministra Marina Silva, que sofreu uma violência política monstruosa coisa inadmissível, meu repúdio total teve que se de se ausentar de um ambiente totalmente dominado por homens até com medo eu acho de apanhar. E que nós precisamos acreditar que a justiça dos homens, elas ela possa prevalecer esperança para outras mulheres que estão sofrendo nesse momento violência possam denunciar a credibilidade da nossa Justiça precisa cada vez mais aumentar. Porque nós somos a maioria da população, a mãe da outra metade, nós representamos um percentual muito forte na nossa sociedade.

O SENHOR PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DEPUTADO WELLINGTON DO CURSO – Mais dois minutos para Deputada Ana do Gás, tendo em vista a importância, ou o tempo que for necessário.

A SENHORA DEPUTADA ANA DO GÁS – E é isso que nós queremos. Então, aqui, eu trago, mais uma vez, a esta Casa que a gente possa esclarecer, como a Deputada Mical foi buscar, ela não foi buscar vingança, ela foi buscar a justiça. Ela obteve a resposta da justiça, do material disposto a esclarecer os fatos, que foi o celular do blogueiro. E eu creio que o Vice-Governador, Felipe Camarão, quer também esclarecer os fatos. E esta Casa está aqui para receber os dois lados, ainda que a gente já tenha um fato. Então, meus amigos, este ataque aqui sofrido com a Deputada Mical, ontem, com a Ministra Marina, que, apesar de não estar num cargo político, onde… meus colegas advogados já saíram, onde ela teria prerrogativas de entrar com uma ação criminal contra o Senador, na reunião de ontem. Mas o Ministério Público ficou atento, o Brasil ficou atento, o mundo ficou atento à violência sofrida pela Ministra. E o ataque à Marina Silva, ele pode ser enquadrado em Código Penal. E é disso que nós estamos falando. Porque a todo momento nós somos subjugadas, nós somos apontadas, nós somos questionadas. E é preciso que a gente, acima de todas as coisas, acredite em Deus e na Justiça. Para fazer justiça pela Marina, para fazer justiça pela Deputada Mical e por todas as mulheres que estão com suas vozes silenciadas, para fazer justiça por mim, que sofro também violência política e já sofri. Sofro a todo momento, todas nós sofremos. E é nesse sentimento que eu venho a esta tribuna, hoje, para fazer justiça pelas mortes do final de semana, que a nossa Procuradora usou esta tribuna para falar.

O SENHOR PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DEPUTADO WELLINGTON DO CURSO – Tempo da Deputada Ana do Gás pelo tempo que for necessário, por gentileza. Pode desligar o cronometro.

A SENHORA DEPUTADA ANA DO GÁS – Para sentir a dor dessas mulheres que perderam a sua vida pelo simples fato de serem mulheres, por não querer mais viver sofrendo ameaçadas, adoecendo diariamente com relacionamentos tóxicos, abusivos e são mortas pelo marido, companheiros de 20, 30 anos. Eu, a todo dia, lá na minha casa, estou ensinando meu marido o que é violência contra a mulher, porque não existe nenhuma mulher que não sofra um tipo de violência. E isso é preciso que a gente dê importância a esses fatos, que são realidades que nós mulheres vivemos e sofremos em todos os espaços, na condição de mulher negra, de mulher branca, de mulher indígena, de mulher do campo, da floresta, na condição de qualquer tipo de mulher. Então, eu peço aqui que os meus colegas reflitam sobre suas falas aqui, hoje, que não distorçam a situação que nós estamos passando e que tragam à memória e que todo dia aqui a gente analise o cenário político desta Casa aos olhos da violência que nós mulheres sofremos todos os dias, que a gente vai observar amanhã ou semana que vem. Vamos ficar atentos para a gente ver quantas violências são sofridas aqui por nós mulheres, que somos doze parlamentares, a maior bancada da história dessa Casa com uma mulher Presidente, em quase cento e noventa anos. Eu faço esse apelo aqui aos colegas, ao nosso Vice-Governador que venha, que esclareça, que se coloque à disposição. E a tantos outros homens do Maranhão, do mundo, perto da gente, longe da gente, familiares que possam valorizar a todas nós mulheres. E que a gente venha diminuir o índice de feminicídio no mundo, no Brasil, porque nós somos mortas pelo simples fato de sermos mulheres. A gente não vê homem sendo morto aí pelo simples fato de ser homem em nenhuma condição, em nenhum espaço.