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Pequeno Expediente Carlos Lula
16 de setembro de 2025
Transcrição
O SENHOR DEPUTADO CARLOS LULA (sem revisão do orador) – Excelentíssimo Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas. Eu queria, Sr. Presidente, antes de entrar propriamente no tema que me propus a falar, mas pedir ao Governo do Estado do Maranhão, sobretudo, ao Secretário Sebastião Madeira, Chefe da Casa Civil, que tem intermediado as negociações, para que possa sentar novamente à mesa com o Sindicato dos Servidores do Detran. O Governo do Estado havia tomado a decisão de não acarretar o despejo do sindicato, com a violência institucional muito forte, muito grande, como há muito não se via no Estado Maranhão, e o despejo aconteceu no dia de ontem. Então, a gente pede novamente ao Governo do Estado que possa sentar com o Sindicato dos Servidores e resolver isso com diálogo e à mesa. Mas, Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, eu queria poder falar sobre o que o Brasil acabou de ver, exatamente, no The Town. O Festival de Música em São Paulo, lá no Autódromo de Interlagos, é um projeto bilionário, capaz de atrair multidões, artistas nacionais, internacionais, na vitrine cultural, que projeta o Brasil para o mundo inteiro. Mas a gente precisa refletir se um festival desta dimensão, capaz de dar palco a grandes estrelas, se a política cultural do Maranhão ainda insiste em negligenciar os artistas daqui, a base da nossa identidade cultural. Eu digo isso por quê? Porque a cantora Isa, no último dia do festival, fez uma homenagem a ancestralidade negra e ao reggae brasileiro, e num gesto simbólico, Deputado Fernando Braide, chamou simplesmente a maranhense Célia Sampaio para dividir o palco. Elas cantaram Mama África, cantaram Vapor Barato, celebraram a história de luta, resistência e beleza que o reggae carrega. E muita gente, por incrível que pareça, foi conhecer Célia Sampaio em razão dela ter sido chamada para o show da Isa. Mas Célia Sampaio é gigante, o Maranhão é gigante. Célia Sampaio e tantos outros maranhenses são essenciais para a música brasileira, não é só para o Maranhão. E aí, a gente tem que se fazer uma pergunta: Quantas vezes o Maranhão tem oferecido aos seus próprios artistas um palco à altura do seu talento? Célia Sampaio não é revelação de agora, não é revelação de ocasião, ela é parte da história da nossa música e da história do reggae brasileiro. Ela começa sua trajetória, em 1984, no Akomabu, e foi a única mulher a integrar a Banda Guetos e abriu caminhos para o reggae local. Célia é conhecida como Dama do Reggae. E é também a primeira mulher negra a gravar um disco de reggae no Brasil. Não vou falar aqui da discografia dela, mas Célia é memória, resistência, patrimônio E é isso que eu queria aqui pontuar Que a presença de Célia no The Town não pode ser tratada como essa ação ou como mera vitrine A Célia é prova de que o talento maranhense é estatura nacional e internacional E aqui está a contradição que eu queria falar e portanto denunciar Enquanto outros palcos reconheçam o valor de Célia, infelizmente a política cultural do nosso Estado Continua se oferecendo estrutura permanente de valorização para os artistas daqui Não basta abrir espaço esporádico ou aplaudir em discursos oficiais Precisamos editar o contínuo, fomentar a circulação regional, apoiar a formação de público Garantir a preservação dos acervos e assegurar que nomes como Célia ou tantos outros Ocupem o centro da programação cultural do Estado Não dá para fazer programação só com artistas de fora Não dá para fazer só carnaval, São Joel, com gente de fora A verdadeira política cultural não nasce de discursos aproveitadores nem de eventos isolados É continuidade, compromisso de tratar a cultura como política de Estado e não como vitrine de ocasião O nosso Maranhão é terra de poetas, cantores, compositores, mestres da cultura popular É disso que a gente precisa Terra do boi, do tambor de crioula, da poesia de Goulart, da música de Alcione Mas é terra também de Célia Sampaio e representa o elo entre a tradição e a modernidade Entre identidade local e reconhecimento nacional A gente celebra Célia no The Town porque a gente celebra o Maranhão que pulsa e que resiste Mas também precisa ser um chamado à responsabilidade Esse reconhecimento a ela não pode se encerrar em São Paulo sob os holofotes de um festival A gente precisa de política cultural com compromisso de valorizar todos os artistas daqui Garantindo espaço, dignidade e condições de florescer. Viva Célia Sampaio! Viva o Maranhão!