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Pequeno Expediente Carlos Lula

14 de maio de 2025

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Transcrição

O SENHOR DEPUTADO CARLOS LULA (sem revisão do orador) – Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, eu quero, no dia de hoje, poder continuar uma reflexão que eu havia feito ontem quando havia pedido serenidade, havia pedido que a gente pudesse colocar o Maranhão em primeiro lugar, Deputado Arnaldo Melo, nas discussões sobre o futuro do Estado. E hoje eu venho, mais uma vez, pedir algo que é raro nos tempos que a gente vive de urgência e de velocidade, que é pedir silêncio ou, mais do que isso, pedir escuta, a verdadeira escuta, Deputado Nagib, escuta com humildade. Hoje, Deputada Andreia, todos querem falar. Mais do que isso, Deputado Adelmo, a gente quer gritar, ocupar, dominar o espaço público com palavra, vídeo, opinião definitiva, mas poucos se permitem o ouvir, ouvir quem já viveu mais, quem já viveu, quem já viu o tempo passar, quem já construiu vitória, quem já amargou derrota e aprendeu, a duras penas, que a política não é um jogo de soma zero, mas uma obra sempre inacabada. E eu falo isso, pensando antes em dois grandes nomes do nosso tempo. Eu quero falar aqui de Francisco, o nosso papa, recém-partido, e falar de outro grande nome que partiu no dia de ontem: Pepe Mujica. Francisco, do alto dos seus 87 anos, nos ensinou que há grandeza na simplicidade, que a fé sem escuta é fanatismo, Deputada Mical, e que o poder sem empatia vira tirania. Com a vida dele, ele mostrou que ternura também é um ato de coragem e que muitas vezes é preciso que a gente desça para elevar os outros. Então, que a gente possa, de fato, servir como Jesus serviu, limpando os pés do outro. Pepe Mujica, também velho, com muito orgulho, sempre dizia que pobre não é quem tem pouco, mas quem precisa de muito; e que a política precisava de mais jardim e menos palácio. Com seu fusca azul, ele sempre dizia que a gente precisava de mais tempo para conversar e menos pressa para julgar. Ele doou toda sua vida, sua juventude, seus anos de cárcere, sua velhice, sua lucidez a uma causa; nunca a ele mesmo. Ambos, Francisco, na Argentina, mas no papado, e Pepe Mujica, no Uruguai, não falavam para agradar algoritmos; eles falavam para tocar consciências. E ambos doaram a sua vida e nos devolveram o que há de mais valioso: a experiência dos cabelos brancos. E é por isso, Deputado Arnaldo, que eu respeito muito V. Exa., por ter mais tempo de política nesta Casa, ser o nosso decano, por já ter vivido praticamente tudo: vitórias, derrotas; vitórias inesperadas, derrotas inesperadas. E o Maranhão precisa aprender a escutar quem tem cabelo branco, precisa aprender a escutar os mais velhos. E aqui eu quero fazer uma menção direta a um Ex-Governador por quem eu tenho enorme admiração, José Reinaldo Tavares. Ex-Governador do nosso Estado, já no limiar da sua vida, que já andou muito, são mais de oito décadas de existência. E nós sabemos que quem tem a felicidade de chegar nesse ponto da vida sabe que já viveu e terá muito menos vida pela frente do que já viveu. Mas ele é um dos quadros políticos mais experientes do nosso Estado, que tem falado, que tem alertado e que, sobretudo, tem sinalizado para nós, porque quando os mais velhos falam, não é para provocar, é para prevenir. E eu vi entrevistas que o Ex-Governador José Reinaldo deu essa semana. E ele, que conhece os ritmos da política, disse com clareza e alertava para o que está acontecendo no Estado. No possível rompimento que está a acontecer dentro do grupo que governa o Estado desde 2014,  2015. Óbvio que ele dizia: a política é imprevisível. Então, onde a gente olha impasse, o Governador José Reinaldo também observava a esperança. Reconhecer o conflito e não fechar as portas. Óbvio que a política é feita de encruzilhadas, mas também feita de pontes, Deputado Arnaldo. E para construir pontes, às vezes, é preciso parar, olhar para trás e ouvir quem já cruzou o rio antes da gente. A juventude traz força, mas é a velhice e o tempo, Deputado Neto, que traz perspectiva.  Por isso eu peço…

O SENHOR PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DEPUTADO ADELMO SOARES – Vamos conceder mais um tempo ao Deputado Carlos Lula, por favor, peço para a Mesa.

O SENHOR DEPUTADO CARLOS LULA – Por isso eu peço ao Governador Carlos Brandão que ouça o Governador José Reinaldo Tavares. É importante dizer. Ele, inclusive, dizia ontem: “O Governador Carlos Brandão não trata de política comigo. Ele trata de política tão somente no seu entorno familiar.” Pois eu faço um apelo ao Governador Carlos Brandão: aumente esse entorno. Deixa um pouco a família de lado. Escute quem já veio antes de você.  Escutar os que sabem o que é perder e os que não têm mais nada para provar. Porque o Governador José Reinaldo já ocupou todos os cargos que poderia ocupar. A política, ela precisa menos de performance, mais de memória, menos de vaidade e mais de humildade. Por isso, eu peço: sabedoria nem sempre está no holofote, ela está ali nas vozes mais pausadas, nos gestos mais contidos, nos conselhos que não são impostos, eles orientam. Por isso, eu peço a reflexão a esta Casa, que a gente possa escutar, escutar sobretudo quem já andou um caminho bem maior antes da gente. Obrigado.