17 de julho de 2025

Maranhão avança com nova ‘Rota do Queijo’ e conquista prêmios importantes no cenário nacional

Com sabores peculiares, o produto vem colocando o estado em uma posição privilegiada na produção de queijos artesanais e na preferência dos apreciadores

Maranhão avança com nova ‘Rota do Queijo’ e conquista prêmios importantes no cenário nacional

Laticínio Igarapé produz 500kg de queijo diariamente, sendo 70% do tipo coalho. Amor e tradição marcam a história do Queijo Igarapé

Agência Assembleia

Por Doriane Menezes / Fotos: Kristiano Simas

Com uma bacia leiteira em franca expansão, o Maranhão segue a passos largos rumo à construção de uma nova ‘rota do queijo’ no Nordeste brasileiro. Unindo cultura, técnica e paladar peculiares, o queijo maranhense alça voos nunca antes imaginados e vem conquistando chancelas importantes em concursos nacionais e internacionais, abocanhando novos mercados e arrebatando a preferência de apreciadores dessa milenar arte da gastronomia queijeira.  

O Queijo Sertão, de Colinas; e o Queijo Igarapé, de Igarapé Grande, são algumas das marcas que representam essa nova rota e que vêm colocando o Maranhão em uma posição privilegiada na produção de queijos artesanais no país.

Assim, o queijo maranhense sai de uma produção incipiente, originária de antigos ranchos leiteiros, e passa a adotar novas e modernas tecnologias de produção, seja para a elaboração do queijo artesanal ou industrializado. Algumas das fazendas leiteiras que entraram para o ramo vêm conduzindo a produção aliada a aspectos de sustentabilidade ambiental, que agregam valor verde ao produto e conquistam nichos de consumo cada vez mais exigentes.

Queijo Sertão ganha sete troféus no maior concurso do gênero em Santa Catarina

Uma dessas produções é a do ‘Queijo Sertão”, da Leitaria Brandão, no município de Colinas, distante 442 quilômetros da capital maranhense. Entre palmeiras de babaçuais que amenizam um pouco o calor escaldante da região de solo levemente avermelhado, o empreendimento finca os pés cada vez mais forte nesse ramo atualmente liderado por grandes leitarias do Sul e Sudeste do país.     

Essa constatação veio com os diversos prêmios conquistados em renomados concursos gastronômicos do gênero. Recentemente, os tipos coalho pasteurizados, coalho no palito com especiarias, ricota fresca, Minas frescal, entre outros da linha, arrebataram nada mais, nada menos que sete troféus em diferentes categorias do grande ‘Prêmio Queijo Brasil’, realizado em Blumenau (SC), vencendo concorrentes tradicionais na feitura do produto e, inclusive, de outros estados nordestinos participantes.

“Queijo sem defeitos, muito prazeroso em sua suavidade, sabor equilibrado, massa de bom visual. Um belo representante do estilo”. Assim descreveram os jurados do ‘Prêmio Queijo Brasil’ nas fichas de avaliação do concurso, referindo-se ao Queijo Sertão tipo coalho artesanal – carro-chefe da Leitaria Brandão -, que levou o ouro na categoria.

O Queijo Sertão tipo coalho é um dos mais premiados da linha de produção do Laticínio Brandão

Mas a fama do queijo maranhense de Colinas não para de crescer e chegou também à ExpoQueijo Brasil – Araxá International Cheese Awards, um dos maiores concurso de queijos artesanais das Américas, realizado em Minas Gerais. Dessa vez, foi o Queijo Sertão tipo coalho com carne de sol que conquistou o paladar dos apreciadores com uma massa que acrescenta ao tradicional coalho um sabor tipicamente nordestino, ao introduzir a carne de sol no produto. Na premiação, trouxe a prata para o Maranhão.  

Premiações nacionais em importantes concursos do gênero têm chancelado o Queijo Sertão como um dos melhores do país

Sabores peculiares e regionais despertam o interesse de apreciadores   

A conquista de novos mercados e premiações importantes no cenário nacional pela leitaria colinense, que começou seu legado em uma pequena fazenda familiar nos idos de 1955, demonstra que vem dando certo a ousadia de impulsionar um estado que não tinha vocação para o ramo, mas que agora caminha a passos largos rumo a um lugar hoje ocupado pelas grandes bacias leiteiras de estados como Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

Mas não é à toa que o Queijo do Sertão vem colecionando conquistas. Segundo o gestor de Negócios da Leitaria, Mário Carneiro, o produto se destaca no mercado pela excelente qualidade, aparência limpa e uniforme, com cor clara, livre de manchas ou rachaduras. A textura firme e elástica também é outro qualificador desse queijo que permite cortes sem esfarelar. No paladar, apresenta sabor suave com notas lácteas, levemente salgado e sem amargor ou acidez indesejados. Também se caracteriza pelo aroma fresco e agradável.

Além disso, o diferencial do queijo maranhense está também nas peculiaridades regionais adicionadas ao produto, que imprimem ainda mais identidade ao sabor com a inclusão, por exemplo, de produtos e especiarias típicas da região, como a pimenta.

Textura firme e elástica, sabor suave com notas lácteas, levemente salgado e sem amargor ou acidez indesejados são característica do queijo maranhense

“São novos sabores que colocam nosso queijo em patamares diferenciados na concorrência. As premiações nos impulsionaram e nos deram gás para alçar novos voos”, afirmou Carneiro, destacando ainda que, para isso, um novo laticínio está sendo construído para aumentar a capacidade de produção e, consequentemente, gerar mais emprego na região onde opera.

Ainda em termos de diferencial perante outros produtos, ele destaca também a levedura do Maranhão, que foi reconhecida por especialistas como uma das melhores do mundo. “Talvez seja esse o segredo”, diz ele, sorrindo, confiante no produto da casa.

Leitaria adota modelo de bem-estar animal para aumento da produção e qualidade do queijo

Para chegar ao patamar de excelência que alcançou foram necessárias mudanças cruciais que vão desde o manejo dos animais até o laticínio. Segundo relata o gerente-geral da Leitaria Brandão, veterinário Romão Neto, as conquistas do Queijo do Sertão são fruto de um trabalho árduo e da mudança de postura no manejo dos processos em todas as etapas de sua elaboração.

Atualmente, a produção do leite para a feitura do Queijo do Sertão e de outros derivados da linha origina-se de um approach todo especial, entre eles, a adoção do sistema de Compost Barn para tratamento das vacas. Trata-se de um modelo de alojamento para vacas leiteiras, que combina bem-estar animal, ventilação adequada, livre locomoção, manejo controlado de esterco e sustentabilidade ambiental. Se bem manejado, o sistema é capaz de registrar um acréscimo de 20% a 35% na produção por vaca, refletindo em um leite de melhor qualidade, sobretudo por oferecer maior conforto e redução de estresse ao animal.

Modelo Compost Barn para tratamento das vacas combina bem-estar animal com ventilação adequada, livre locomoção, manejo controlado de esterco e sustentabilidade ambiental

“Além de usufruir de todos esses aspectos, nossas vacas recebem ainda alimentação balanceada rica em nutrientes especiais para cada fase e tomam dois banhos por dia, sempre antes de cada ordenha. O resultado vem com uma produção grandiosa de leite, com a máxima qualidade e que resulta, consequentemente, em um queijo de textura e sabores inigualáveis”, enfatizou Romão Neto, revelando ainda que, em breve, a vida dos animais no alojamento será embalada também por música clássica, outro benefício comumente adotado pelo sistema de Compost Barn, visando reduzir ainda mais o estresse no período da lactação.

Com uma produção de aproximadamente 2 mil litros de leite/dia, a perspectiva é chegar a 10 mil litros/dia até 2026, formando uma bacia leiteira capaz de atender ao crescimento da produção de queijo na atual fábrica, que está sendo totalmente reformulada para comportar o vertiginoso aumento da produção.

Com uma produção de aproximadamente 2 mil litros de leite diariamente, a perspectiva é chegar a 10 mil litros/dia até 2026, aumentando ainda mais a fabricação do queijo

Segundo Romão Neto, atualmente são produzidos 5 mil quilos de queijo por mês, sendo que cerca de 70% são do tipo coalho e o restante distribuído entre outras formas do produto.

O plantel é composto por 75% de vacas holandesas e as demais da raça girolando e pardo suíço. Em média, são feitos 13.5 partos por mês. Mas o projeto de expansão da leitaria prevê chegar a 150 vacas em lactação, para uma captação de aproximadamente 30 litros de leite por animal, até 2029.

Cinco mil quilos de Queijo Sertão são produzidos por mês, sendo que cerca de 70% são do tipo coalho

Outro aspecto positivo observado na trilha da ‘rota do queijo’ maranhense é o potencial gerador de renda e de novos postos de trabalho na região. Quem já se beneficia disso é o jovem João Cláudio, 25 anos, assim como outras 13 funcionárias que atuam só no processo da ordenha. Cláudio é um dos trabalhadores responsáveis pelo manejo alimentar e outras abordagens que proporcionam o bem-estar dos animais no alojamento. “É daqui que garanto o sustento da minha família”, disse o rapaz, que é casado e tem um filho.

O próprio veterinário Romão Neto é da região e foi absorvido como gerente-geral da Leitaria Brandão, onde vem desenvolvendo um trabalho com planejamento moderno e sistematizado.

Inspeções constantes e o cuidado intensivo no manejo das vacas garantem bem-estar ao animal e melhor qualidade do leite e do queijo produzido no laticínio

Com apoio do Sebrae/MA, Laticínio recebe suporte para melhoria de processos e de produtividade

Para melhoria e aprimoramento da sua produção, o Laticínio Brandão tem a consultoria do Sebrae/MA, que apoia o empreendimento nos mais diversos aspectos. Recentemente, foi aplicada a consultoria em mapeamento e melhoramento de processos – uma solução especializada voltada para identificar, analisar e otimizar os fluxos de trabalho do negócio.

Segundo o coordenador de Desenvolvimento Setorial do Sebrae no Maranhão, Maurício Lima, essa consultoria teve como objetivo tornar os processos do Laticínio mais eficientes, produtivos, padronizados e econômicos, eliminando desperdícios e aumentando a competitividade.

Outro apoio que o Queijo do Sertão recebeu do Sebrae foi na participação de eventos de mercados em níveis estadual e nacional, como o ENEL 2024 – Encontro Nordestino do setor de Leite e Derivados, que aconteceu durante a Expoema, em São Luís, e o Agrinordeste/2024, em Olinda (PE), onde a empresa participou como expositora.

Mas as ações do Sebrae-MA vão além e têm contribuído fortemente para a melhoria da cadeia produtiva do leite no estado. O órgão oferece um conjunto estruturado de ações e consultorias voltadas para o fortalecimento da cadeia produtiva do leite e derivados, com foco no aumento da produtividade, na qualidade dos produtos, no acesso a mercado e regularização sanitária. Dentre estas ações destacam-se as fichas do Sebraetec – um programa orientado para inovação e gestão -, aplicadas frequentemente na cadeia produtiva leiteira, voltadas à adequação de agroindústrias, à gestão de propriedade, ao melhoramento genético, entre outros suportes.

“Atualmente, estamos atendendo um universo de 142 empreendimentos da cadeia produtiva do leite no Maranhão, nas regionais de Bacabal, Açailândia e Imperatriz, disponibilizando capacitações técnicas e gerenciais, palestras, seminários, missões empresariais e apoio a feiras e exposições agropecuárias”, enfatizou o coordenador de Desenvolvimento do Sebrae/MA, Maurício Lima.

Queijo Igarapé registrou grande crescimento no mercado e conquista cada vez o gosto dos apreciadores. O laticínio é um dos maiores produtores em larga escala de queijos do Maranhão

Queijo Igarapé leva tradição e sabor à mesa dos apreciadores da iguaria

Seguindo o mesmo caminho, o ‘Queijo Igarapé’ é outro importante representante do ramo, com reconhecimento certificado e muitas premiações relevantes. O queijo é produzido pelo Laticínio Igarapé, na zona rural de Igarapé Grande, região central do Maranhão. O município, que é um dos importantes polos leiteiros do estado, forneceu as condições ideais para implantação do Laticínio que hoje é um dos maiores produtores em larga escala de queijos do Maranhão.

O negócio familiar que começou com a paixão dos avós Seifer e Raimunda Medeiros pela produção de leite, ainda no estado da Paraíba, no século passado, fincou raízes pelas bandas de Igarapé Grande e já está na terceira geração de uma família vocacionada para o ramo.

O Laticínio Igarapé produz atualmente meia tonelada de queijo diariamente, sendo 70% do tipo coalho, mas entrou forte na rota do queijo artesanal também com seu requeijão e sua manteiga caseira, que lhes têm rendido premiações em competições importantes do Norte/Nordeste.

Além de atender ao comércio maranhense, abastecendo os grandes conglomerados varejistas locais, o laticínio consolidou mercado também em outros estados, como o Piauí, por exemplo, que compra maior parte da produção dos Medeiros.

Como o Laticínio não dispõe de produção própria de leite, toda a matéria-prima é adquirida dos produtores da região, como a do pequeno agropecuarista Heleno Barros, que entrega 350 litros de leite por semana ao laticínio. “Isso nos ajuda bastante porque nossa produção tem destino certo”, disse Barros.

Dentro da fábrica, a feitura do queijo se desenvolve quase como num balé, num ritmo que mescla precisão e tradição

É com brilho nos olhos que os Medeiros se orgulham não apenas de levar adiante o ofício que herdaram de Seu Seifer e Dona Raimunda, mas também por saber que contribuem diretamente com a economia do local que os acolheu e para a manutenção da produção de dezenas de famílias que vivem da venda do seu leite para o Laticínio Igarapé.

Dentro da fábrica, a feitura do queijo se desenvolve quase como num balé, num ritmo que mescla precisão e tradição, onde cada movimento tem seu tempo certo em uma coreografia silenciosa, ritualística, aprendida ao longo dos anos – mexer, virar, misturar, medir, prensar, cortar…

O aroma lácteo invade o ambiente, convidativo, e o vapor que sobe das cubas aquecidas aguçam todos os sentidos. “Aqui não há espaço para pressa, nem para distrações”, diz Carlinhos Medeiros, um dos gestores do Laticínio. Para ele, o tempo do queijo é soberano e respeitá-lo é o primeiro mandamento de quem transforma o simples leite em uma iguaria que carrega história na alma.

E a família Medeiros tem na sua essência o amor por essa arte. Mesmo com os incrementos tecnológicos e sanitários da modernidade, necessários ao processamento dos produtos na fábrica, o queijo artesanal sempre foi para eles mais do que técnica, é quase um rito ancestral, o sabor de suas manhãs sentados à grande mesa do café familiar, é herança viva moldada com paciência e afeto a essa arte milenar.  

A produção do Queijo Igarapé abastece grandes conglomerados varejistas do Maranhão, Piauí e outros estados

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