Programa ‘Café com Notícias’ conta a história do Boi de Pindaré, um dos mais antigos do Maranhão  

Agência Assembleia / Foto: Meiky Braga

O programa “Café com Notícias”, da TV Assembleia, desta segunda-feira,26, conversou o amo Hermínio Castro e o batuqueiro Jeferson Soares, ambos do Boi de Pindaré, um dos grupos de Bumba Meu Boi de sotaque mais antigos do Maranhão que surgiu como um desmembramento do Boi de Viana.

Hermínio Castro lembrou que o Boi de Pindaré surgiu em consequência da negativa do dono do Boi de Viana à época, Zé Apolônio, a um pedido de uma senhora para pagar uma promessa de um defunto de nome Crispim, na cidade de Alcântara.

“Na ocasião, Zé Apolônio disse que não pagava promessa para defunto. E aí, João Câncio, que era mais sentimental, levou uma parte do batalhão e pagou a promessa do defunto. E como não fomos mais aceitos no Boi de Viana por termos pagos a promessa, criamos o Boi de Pindaré, no bairro Floresta. Essa é a história”, esclareceu Hermínio Castro.

Ele disse, ainda, que outra diferença do Boi de Pindaré para o de Viana é que João Câncio teve a ideia de introduzir um sotaque diferente, com o uso de três pandeiros. “Os três pandeiros representam a marcação, que bate dois por uma; o merengue, que é uma por uma, e o repinique, que é uma sequência de batidas. Esse formato foi criação de João Câncio e boi nenhum tem aqui. Somos o único”, ressaltou o amo.

Herança familiar

O batuqueiro Jeferson Soares revelou que está na brincadeira por influência do seu avô José, que ele chama de pai, que ainda é vivo e está com 86 anos de idade.  “Essa inspiração vem de meu avô. E, hoje, a brincadeira tem como núcleo as famílias. A minha família é uma delas. E vai passando de uma para outra. Assim, mantemos nossa cultura e tradição”, frisou.

Importância de Coxinho

O amo Hermínio Castro destacou a importância do amo e fundador do Boi de Pindaré, Bartolomeu dos Santos, conhecido por Coxinho, falecido em 1991. “Coxinho é inesquecível para nós. Ele alavancou a nossa cultura. Ele soltou o canto que cantou e encantou a todos. Seu estilo de cantar era único”, salientou.

O programa ‘Café com Notícias’ é apresentado pela jornalista Elda Borges e exibido de segunda a sexta-feira, às 8h30, na TV Assembleia (canal aberto digital 9.2; Maxx TV, canal 17; e Sky, canal 309).

Assembleia Legislativa homenageia o Boi de Pindaré em sessão solene

Agência Assembleia

A Assembleia Legislativa do Maranhão promoveu, nesta quinta-feira (15), uma sessão solene em homenagem aos 65 anos do Boi de Pindaré, uma das mais emblemáticas manifestações da cultura popular maranhense. A iniciativa foi do deputado estadual Júlio Mendonça (PCdoB), que destacou a importância histórica, cultural e social do grupo para São Luís e o Maranhão.

A cerimônia foi presidida pelo deputado Carlos Lula (PSB) e reuniu parlamentares, convidados, produtores culturais, representantes da sociedade civil e, principalmente, brincantes do Boi de Pindaré, que levaram ao plenário um pouco da força, beleza e ancestralidade da manifestação.

Sessão foi presidida pelo deputado Carlos Lula e reuniu parlamentares, convidados, produtores culturais, representantes da sociedade civil e brincantes do grupo folclórico

Reconhecimento

Júlio Mendonça ressaltou o papel fundamental do Boi de Pindaré na preservação da cultura popular e na construção de redes de solidariedade em territórios socialmente vulneráveis.

“Mais do que uma manifestação folclórica, o Boi de Pindaré é resistência, inclusão e educação comunitária. Ele representa um verdadeiro patrimônio vivo”, afirmou.

“Celebrar o Boi de Pindaré é reafirmar nossas raízes. É garantir que as vozes dos nossos mestres ecoem por muitas gerações”, concluiu Júlio Mendonça.

O deputado Carlos Lula manifestou satisfação e orgulho de ter presidido o ato solene. “A homenagem reforça a relevância do Boi de Pindaré como símbolo da identidade maranhense e reconhece seu papel na formação de uma cultura que pulsa nas periferias, nas comunidades quilombolas e nos corações de todos os que fazem da tradição do bumba meu boi uma expressão de vida, fé e luta”, frisou.

Integrantes do Boi de Pindaré se apresentam durante a sessão solene

Agradecimento

Benedita Arouche, coordenadora do grupo, agradeceu imensamente o reconhecimento da Assembleia Legislativa ao Boi de Pindaré e afirmou que toda essa vivência comunitária promove a troca de saberes entre as gerações, fortalecendo os laços sociais e prevenindo situações de vulnerabilidade, especialmente entre os jovens.

“É no barracão que vidas são transformadas e histórias são escritas a partir do tambor, da toada e da coletividade. A cultura, nesse contexto, é ferramenta de resistência e de cidadania”, destacou Benedita Arouche.

Batalhão do Boi de Pindaré agradeceu pela homenagem e retribuiu com toadas

História

O Boi de Pindaré foi fundado em 1960 por João Câncio dos Santos, em São Luís, e carrega no nome uma homenagem à sua terra natal, o município de Pindaré-Mirim, além da região da Baixada Maranhense, berço de muitos dos primeiros brincantes do grupo.


Segundo registros históricos e relatos orais, o Boi de Pindaré foi o responsável por introduzir na capital o sotaque da Baixada, um estilo que se consolidou e se espalhou a partir da atuação pioneira do grupo.

O grupo tem sede no Bairro de Fátima, em São Luís, onde desenvolve atividades culturais e sociais durante todo o ano, envolvendo crianças, jovens e adultos. No barracão do boi, são realizados ensaios de dança e percussão, oficinas de confecção de indumentárias e instrumentos, além da produção de chapéus de penas, fitas e caretas de cazumbá.

Em 1972, eternizou seu legado com o lançamento do LP Sotaque de Pindaré, que trouxe à tona a emblemática toada Urrou do Boi, imortalizada na voz do cantador Bartolomeu dos Santos, o Coxinho. A importância desse registro é tamanha que a música é considerada o Hino do Folclore Maranhense, e uma das praças do bairro de Fátima leva o nome de “Largo do Coxinho” em sua homenagem.

Atualmente, é liderado pelos amos Mestre Castro e João Sá Viana, que mantêm viva a tradição iniciada por João Câncio. Todos os anos, o ciclo festivo do boi se inicia no Sábado de Aleluia, com o primeiro ensaio, e segue até agosto, com a morte simbólica do boi, encerrando mais uma jornada de resistência cultural.